NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE PESQUISAS QUANTI E QUALI
METODOLOGIA DA PESQUISA EM
LETRAS
MINISTRANTE
: Girlene Lima Portela
ABORDAGENS
TEÓRICO-METODOLÓGICAS
Pesquisa quantitativa ou qualitativa ? Eis a
questão
Por Girlene Lima Portela
L’univers éducationnel est d’une côte
riche en même temps ambigu (...).Il faut prévoir l’adaptation du sujet à différentes
circonstances (...) ».
(Granger,
1982)
Resumo:
Este artigo trata das peculiaridades observadas entre a pesquisa quantitativa e
a pesquisa qualitativa, dado a discussão que sempre é travada entre os
pesquisadores, defensores de cada um desses métodos. Nele, nos ateremos à
pesquisa em Ciências Sociais e mais especificamente à pesquisa educacional, à
qual estamos diretamente ligados, tanto como pesquisadora quanto como
professora de língua portuguesa e metodologia da pesquisa em Letras.
Introdução
Considerando-se
que a pesquisa científica exige, entre outras características, a criatividade,
a disciplina, a organização e a modéstia do pesquisador, deve-se levar em conta
que ele lida sempre com confrontos. Nesse sentido, a pesquisa em Ciências
Sociais deve, entre outras coisas, suscitar o debate entre a sociologia
positivista e a sociologia compreensiva, de acordo com Goldenberg (1999).
Muitas são as
divergências observadas entre a metodologia quantitativa e a qualitativa.
Assim, passaremos a discutir cada uma delas, para após, apresentarmos nossa
crítica acerca da utilização de um ou de outro desses modelos, ou sugerir uma
triangulação, que seria o mais adequado, considerando-se o universo ambíguo de
que trata Granger (op. cit.).
A
pesquisa qualitativa
A
pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim
com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização etc.
Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa se opõem ao pressuposto que
defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências
sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim,
os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo
da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem
permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa. (Goldenberg,
1999).
Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos
buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não
quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos,
pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se
valem de diferentes abordagens.
Problemas
teórico-metodológicos
Na pesquisa qualitativa, o
cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O
desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é
parcial e limitado. « Le but de
l’échantillonnage est de produire le maximum d’information: qu’il soit petit ou
grand importe peu pourvu qu’il produise de nouveaux faits ». (Deslauriers,
1991, p.58)
Procedimentos metodológicos
Observação
participante: através da participação na vida cotidiana do grupo ou da
organização que estuda; entrevistas ou conversa para descobrir as
interpretações sobre as situações que observou, podendo comparar e interpretar
as respostas dadas em diferentes momentos e situações.
Coleta
de dados
Investigação
descritiva (fonte direta de dados é o ambiente natural); os materiais
registrados são revistos na sua totalidade pelo investigador. Os dados são
recolhidos em situação natural e complementados pela informação que se obtém
através do contato direto ; transcrições de entrevistas, notas de campo,
fotografias, vídeos, documentos pessoais, memorandos e outros registros
oficiais ; supremacia do processo em detrimento do produto ; familiaridade com
o ambiente, pessoas e outras fontes de dados, adquiridos principalmente através
da observação direta, do estudo de caso da entrevista, além da história de
vida, entre outros.
Características
da pesquisa qualitativa
Objetivação do
fenômeno, hierarquização das ações descrever, compreeender, explicar, precisão
das relações entre o global e o local em determinado fenômeno, observância das
diferenças entre o mundo social e o mundo natural, respeito ao caráter
interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações
teóricas e seus dados empíricos, busca de resultados os mais fidedignos possíveis,
oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as
ciências.
Limites
e riscos
Excessiva
confiança no investigador enquanto instrumento de coleta de dados, reflexão
exaustiva acerca das notas de campo pode representar uma forma de tentar dar
conta do objeto estudado, além de controlar o efeito do observador, falta de
detalhes sobre os processos através dos quais suas conclusões foram alcançadas,
falta de observância de aspectos diferentes sob enfoques diferentes, certeza do
próprio pesquisador com relação a seus dados, sensação de dominar profundamente
o seu objeto de estudo, envolvimento do pesquisador na sua situação (ou com
sujeitos) pesquisada.
Pesquisa quantitativa
Nesse tipo de abordagem, os pesquisadores buscam exprimir
as relações de dependência funcional entre variáveis para tratarem do como dos
fenômenos. Eles procuram identificar os elementos constituintes do objeto
estudado, estabelecendo a estrutura e a evolução das relações entre os
elementos. Seus dados são métricos (medidas, comparação/padrão/metro) e as
abordagens são experimental, hipotético-dedutiva, verificatória. Eles têm como
base as metateorias formalizantes e descritivas.
· Vantagens: automaticidade e precisão, controle de bias
· Limites: determinação prévia de resultados
Conclusão
Conforme
características, limites e vantagens das abordagens acima citadas, acreditamos
que a melhor forma de se pesquisar é através da integração entre os métodos
quantitativo e qualitativo, pois para analisar-se com fidedignidade uma
situação dada é necessário o uso de dados estatísticos e outros dados
quantitativos, e também da análise qualitativa dos dados obtidos por meio de
instrumentos quantitativos, entre outros cuidados para se evitar o bias,
fruto da subjetividade que encerra uma pesquisa, a exemplo da subjetividade do
pesquisador.
Considerando-se
que a subjetividade do pesquisador sempre está presente, mesmo nas
pesquisas quantitativas, o melhor procedimento a tomar é fazer um cruzamento de
dados, podendo assim obter uma melhor compreensão do problema estudado,
conforme o atesta Deslaurier (1991).
« En ce qui concerne les sources
d’information, trois éléments doivent être précisés lors de la structuration de
l’action: la procédure d’échantillonnage, la localisation des sources
d’information et le nombre de sujet. La procédure d’échantillonnage consiste à
déterminer comment les sources d’information seront sélectionnées: s’agit-il
d’un échantillonnage au hasard, stratifié, intentionnel? Différentes stratégies
sont possibles tant sur le plan de la recherche quantitative que la recherche
qualitative (...) ». (p.59)
As
vantagens de se integrar os dois métodos está, de um lado, na explicitação de
todos os passos da pesquisa, de outro, na oportunidade de prevenir a interferência
da subjetividade do pesquisador nas conclusões obtidas.
Outros
cuidados devem ser tomados para que uma pesquisa chegue a seu termo e seja
aceita nos meios científicos, a exemplo da correção e adaptação dos
instrumentos de pesquisa durante todo o processo, intervenção, através de
instrumentação para a obtenção de resultados mais confiáveis, e manuseio de
forma responsável de objetos e acontecimentos, entre outros.
Buscando-se
uma excelência em pesquisa, o pesquisador deve levar em consideração as possíveis
dificuldades a serem enfrentadas ao desenvolver a pesquisa. Nesse particular,
sua experiência e maturidade são fatores determinantes para que a pesquisa seja
bem-sucedida.
Além
da consciência do papel do pesquisador frente às exigências do projeto, deve-se
buscar o controle da subjetividade, levando os sujeitos a expressarem
livremente suas opiniões, respeitando os valores e responsabilidades do
pesquisador para consigo e para com a sua profissão, fazendo interpretações
através de um esquema conceitual, respeitando a expressão de opiniões, crenças,
atitudes e preconceitos, etc.
Com
relação ao procedimento ético em pesquisa, é necessário buscar o consentimento
informado e proteção dos sujeitos contra qualquer espécie de danos, dar importância
central à intencionalidade dos atores, à complexidade e à fluidez dos processos
implicados no desenvolvimento da ação social.
Referências
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