Textos introdutórios
QUE É
OPINIÃO PÚBLICA?
Harwood L. Childs
A origem da expressão "opinião pública" está envolta em
mistério. Na literatura da Grécia e Roma antigas, bem como ao longo da Idade
Média, os filósofos tinham inteira consciência da importância da opinião das
massas. A frase "voz populi, vox Dei" data da última parte da Idade
Média. Foi só no século XVIII, entretanto, que se submeteu a expressão opinião
pública a uma análise e tratamento sistemáticos. Durante os séculos XVII e
XVIII escritores como Voltaire, Hobbes, Locke e Hume pagaram o seu tributo à força
da opinião pública. Mas era esse o período da Revolução Francesa e devemos
voltar-nos mais particularmente para os escritos de Rousseau para uma primeira
e cuidadosa análise do assunto. Hobbes falou no mundo como sendo governado pela
opinião; Lock considerou a opinião como uma das três categorias do direito; e
Hume deu expressão à clássica afirmação de que "é somente na opinião que o
governo se fundamenta; e esta máxima estende-se aos governos mais despóticos e
militaristas, tanto quanto aos mais livres e populares". Blaise Pascal
referiu-se à opinião pública como "Rainha do Mundo", ao que Voltaire
replicou: "se a opinião é Rainha do Mundo, os filósofos governam a
Rainha".
Rousseau, escrevendo no século XVIII, fez uma das mais claras análises do
conceito de opinião pública em sua época. Aplicou sua teoria da infalibilidade
popular ao estado, proclamando que "o desejo mais generalizado é também o
mais justo". Este ponto de vista tem sido freqüentemente repetido desde
então. Rousseau acreditava que mesmo o despotismo se apoia na opinião pública
porque dizia ele, "o governo despótico é servil, mesmo quando fundamentado
na opinião; pois você depende do preconceito daqueles a quem você governa pelo
preconceito." Rousseau parece ter sido o primeiro a usar a expressão
"l’opinion publique", e são valiosas suas considerações sobre as
relações entre a opinião e o direito. Afirmou que "quem quer que se
dedique à tarefa de legislar para um povo deve saber como manejar as opiniões,
e através delas governar as paixões dos homens."
A Revolução Francesa, entretanto, estimulou a discussão do assunto da
opinião pública em uma escala até então sem competência das massas para
governar. Na Alemanha a Revolução inspirou o tratamento sistemático do assunto
por Wieland Garve, Fries e Hegel. Dessas discussões surgiram definições mais
precisas dos termos, bem como tentativas de determinar o correto papel da
opinião pública nos negócios públicos. Garve, por exemplo, definiu a opinião
pública como "o acordo de muitos ou da maioria dos cidadãos de um país
quanto aos julgamentos a que chegou cada indivíduo de per si como resultado de
sua própria reflexão ou de seu conhecimento prático sobre um determinado
assunto". Esta definição chegou a nós praticamente intacta nos escritos de
Lowell e outros cientistas políticos. A maioria dos escritores alemães da época
considerava que a competência da opinião pública para governar estendia-se
apenas aos princípios gerais. Hegel formulou a teoria, percursora do fascismo,
de que a opinião pública só devia ser respeitada quanto aos princípios
essenciais nela contidos, e que cabia ao dirigente descobrir quais esses
princípios essenciais.
Jeremy Bentham foi o primeiro a tratar minuciosamente do assunto em
inglês. Sublinhou a importância da opinião pública como meio de controle
social, discutiu sua relação com a legislação e foi um dos primeiros a examinar
o papel desempenhado pela imprensa na sua formação. Afirmava que a opinião
pública era necessariamente parte integrante de qualquer teoria democrática do
Estado. O problema fundamental da opinião pública, era a seu ver
"salientar a retidão das decisões por ela tomadas".
A crescente importância da imprensa em sua relação com a formação da
opinião pública atraiu o interesse de muitos. Estudiosos de direito e jurisprudência,
analisaram cuidadosamente as relações entre a opinião pública, o direito e as
instituições políticas. Sociólogos e psicólogos prestaram cada vez mais atenção
à questão de como realmente se forma a opinião pública. Muitos outros
salientaram o caráter emocional e irracional do processo formativo da opinião
pública.
Os escritos de A F BENTLEY, em 1908, inspiraram longa lista de estudos
relativos à influência dos grupos de pressão sobre a opinião pública. A Guerra
Mundial e as obras de LASSWELL, STERN-REUBARTH e outros chamaram a atenção para
o papel da propaganda. A variedade de estudos especializados de fatores
particulares que influenciam a formação da opinião pública só teve par na
multiplicidade de fatores que podem ser estudados.
Salientaram os sociólogos a importância da opinião pública como meio de
controle social; os psicólogos, o papel desempenhado por vários fatores
hereditários e ambientais na formação das opiniões individuais; estudiosos do
direito, a influência da opinião pública sobre as diretrizes governamentais;
estudiosos da ciência política, sua influência sobre o governo, bem como a
influência das instituições governamentais, oficiais ou não, sobre ela.
Um dos aspectos mais perturbadores de
todo o assunto da opinião pública é a crescente intensidade dos conflitos de
opinião; são as divergências cada vez maiores entre os grupos; é a ausência de
premissas e objetivos de aceitação geral. A guerra, seja ela entre povos, raças
ou classes, é um reflexo deste estado de opinião. O problema da redução das
diferenças de opinião entre as nações e entre as classes é, em grande parte, um
problema psicológico, o da reconciliação e harmonização das diferenças de
opinião. Para consegui-las, é necessário, antes de tudo, descobrir por que os
estados de opinião são o que são, quais as suas verdadeiras causas.
VIRGINIA SEDMANN, por exemplo, depois de cuidadosa análise das definições
de vários autores concluiu que "opinião pública" é, para nós, uma
força ativa ou latente, derivada de um agregado de pensamentos, sentimentos e
impressões pessoais, ponderados pelos vários graus de influência ou
agressividade das opiniões individuais dentro do todo."
FLOYD H. ALLPORT, no primeiro número de Public Opinion Quarterly também
tentou trazer ordem ao caos de conceitos, analisando a literatura especializada
e localizando diversas noções enganadoras que causavam os desentendimentos.
Chamou a atenção, especificamente, para as ilusões e soluções irrefletidas,
tais como: 1) a personificação da opinião pública; 2) a personificação do
publico; 3) a ilusão do grupo; 4) a ilusão do uso parcial do termo público; 5)
o que ele chama ficção de uma entidade ideativa; 6) a teoria emergente; 7) a
teoria eulogística; 8) a ilusão jornalística. E também acrescentou uma
definição como contribuição: "A expressão opinião pública recebe seu
significado com referência à situação pluri-individual na qual os indivíduos se
expressam a si próprios, ou podem ser chamados a faze-lo, como favorecendo (ou,
pelo contrário, desfavorecendo e refutando) alguma situação, pessoa ou
afirmação definida de grande importância, em uma tal condição numérica, de
intensidade ou de constância que possa causar a probabilidade de uma ação que
afete, direta ou indiretamente, o objeto". Se isto é o que queremos dizer
por opinião pública, é fácil compreender por que razão os novatos sentem
aversão pelo problema e o evitam.
A expressão "opinião pública" é, evidentemente, uma expressão
geral e bastante lata, como muitas outras expressões úteis do nosso idioma,
tais como"partido político","tempo"
e"democracia". Só quando se refere a um público específico e a
opiniões específicas sobre assuntos definidos é que ela adquire um significado
no sentido de poder ser estudada. Neste ponto, é semelhante à palavra
"tempo", definida por um dicionário, no sentido que nos interessa,
como"um estado da atmosfera". Os estudiosos da metereologia não
costumam preocupar-se com o tempo em geral, mas sim com o estado da atmosfera
em um determinado período e num determinado lugar. Definida nestes termos, a
palavra "tempo" torna-se significativa e pode ser estudada. Da mesma
forma, a expressão "opinião pública" deve ser relacionada com um
público específico e com opiniões definidas sobre alguma coisa. Então é
possível estudá-la, descobrir qual o seu estado, por que razão ela é o que é,
que mudanças tem ocorrido e continuam a ocorrer, e o que deve ser feito, se
alguma coisa precisar ser feita.
A utilização e definição da palavra "público" não implica na
"seleção de um atributo comum a um grupo e a sua aplicação como
característica que dá a essa massa de indivíduos uma individualidade
distinta". Público é, simplesmente, qualquer coleção de indivíduos. A
falta de especificação da coleção de indivíduos que constituem o público a que
os referimos tem conduzido a infindáveis dificuldades.
O número de diferentes públicos em uma comunidade é, teoricamente, o
número de possíveis diferentes combinações de indivíduos nessa comunidade.
Entre os públicos mais importantes, via de regra, figuram os grupos
organizados, tais como os cidadãos de um Estado e os membros de partidos
políticos, sindicatos, organizações comerciais, confrarias e associações
políticas e profissionais. Mas públicos são também grupos não organizados, tais
como multidões, fregueses, leitores de jornais e clientelas de diferentes
tipos. Para fins de ilustração, um público pode significar simplesmente um
grupo formado por todas as pessoas que, em um determinado dia, passam junto a
uma certa caixa de correio. Além disso, os mesmos indivíduos podem fazer parte,
simultaneamente, de vários públicos. Isto quer dizer que eles podem, ao mesmo
tempo, fazer parte de uma torcida de futebol, da clientela de um médico, de uma
associação, de uma igreja e de um partido político. Estudiosos do assunto, bem
como líderes e manipuladores da opinião pública, mostram interesse por públicos
diferentes e por diferentes aspectos destes públicos.
Talvez a palavra "opinião"
possa ser definida como "a expressão verbal de uma atitude".
Para os nossos fins, é bastante aceitar a definição de atitude dada por
um psicólogo, que a considera "a soma total das inclinações e sentimentos,
dos preconceitos ou pendores, das noções preconcebidas, idéias, receios e
ameaças e convicções que um homem tem sobre qualquer assunto específico. Em
outras palavras é uma tendência para agir de um modo particular, uma tendência
que se libera cada vez que surge o estímulo adequado. Assim como as atitudes
são subjetivas, as opiniões são objetivas, e tomam a forma de palavras escritas
ou faladas.
As opiniões diferem uma das outras em muitos aspectos, tais como
conteúdo, forma em que são expressas, qualidade estabilidade, intensidade, e
maneira como se formam ou se adquirem. Qualquer um destes aspectos, sozinho ou
em conjunto, pode assumir importância, dependendo do interesse do observador ou
pesquisador. Uma cientista pode interessar-se principalmente pela veracidade da
opinião, ou pela maneira como ela se formou; um novelista, pela forma com que
ela se expressa. Um publicitário ou político pode prestar atenção,
principalmente, para os tipos de pessoas, que tem uma determinada opinião, para
seu nível econômico, sua posição social e sua influência.
É claro que uma opinião é sempre a opinião de uma pessoa, não de um grupo
considerado como tal. A opinião pública, refere-se sempre a um grupo de
opiniões individuais, e não a uma coletividade mística que paira no ar por
sobre as nossas cabeças. Para descobrir qual é um determinado estado da opinião
pública, portanto, temos de colecionar opiniões de indivíduos. Este ponto não
mereceria destaque especial, a não ser por terem alguns escritores pensando em
termos de uma "mente de grupo", completamente separada e distinta das
mentes das pessoas tangíveis.
Por opinião pública considero, pois, simplesmente uma determinada coleção
de opiniões individuais. O estudo das opiniões da assistência a uma reunião é
tão especificamente um estudo de opinião pública quanto o das opiniões dos
eleitores dos Estados Unidos. Estamos, geralmente, interessados naquelas
coleções de opiniões cuja influência sobre nossos negócios é considerável.
==============
CAMPO MIDIÁTICO, OPINIÃO PÚBLICA E LEGITIMAÇÃO
Eugenia Mariano da Rocha Barichello – UFSM
Genealogia
da Opinião Pública
O vocábulo “opinião” possuía originariamente dois sentidos
distintos que ainda persistem nos seus atuais usos. O primeiro é epistemológico
e provém de seu uso para distinguir a questão do juízo de um fato. Esse
significado deriva da expressão latina opinio e o sentido primitivo do termo
ainda está refletido em seu uso quando se refere à opinião como juízo. O
segundo sentido de opinião está relacionado às conotações da modernidade e,
nesse caso, destaca-se o papel da opinião popular como uma classe informal de
pressão e controle social.
Já a palavra latina publicus deriva de populus ou poplicus, que
significa o povo. Mas havia mais de um sentido no termo “povo” originário: o de
acesso comum ou lugar público (res publica) e o de interesse comum ou bem
comum. Res publica era qualquer propriedade aberta à população e nesse sentido a
essência desse conceito é a de abertura ou acessibilidade.
Outro significado, de surgimento mais tardio, do vocábulo público,
diz respeito a questões de interesse geral, especialmente os assuntos de Estado
e, nesse sentido, refere-se ao interesse comum ou bem comum.
A invenção da imprensa de tipos móveis no século XV permitiu a
ampla difusão de publicações, que foram reforçadas no século XVI pelo
incremento do comércio e a expansão da alfabetização, a esses fatores somou-se
a Reforma Protestante, que criou um amplo público leitor sem a mediação formal
da Igreja. Além disso, a profissionalização das artes, especialmente da
literatura, substituiu a antiga prática do mecenato pela necessidade do apoio
popular, fato que fez florescer um público leitor e instigou os estudos
fundadores sobre a noção de opinião pública.
O conceito de opinião pública é um produto do Iluminismo, e a
combinação dos termos “opinião” e “pública”, com significado político, só
aparece nas filosofias liberais do século XVII e do século XVIII e,
especialmente, na teoria democrática do século XIX. Embora não tenha sido
proposto explicitamente até essa época, muitos pensadores fizeram antecipações
sobre a teoria moderna da opinião pública.
Até o final do século XIX os teóricos da opinião estavam
empenhados em descrever ou medir esse fenômeno na sociedade, que parecia ir
ganhando cada vez mais força especialmente com o aprimoramento das tecnologias
de comunicação.
Em 1901, Gabriel Tarde publicou L’ Opinion et la Foule. Essa obra
constitui um marco na teoria da Opinião Pública e posiciona-se contra o
pensamento de sua época, que previa uma desordem fatal na sociedade provocada
pela democracia da massa. Para Tarde, as idéias não são de seu autor, ou seja,
não são propriamente inventadas mas trazidas à luz, descobertas. O encontro da
idéia no fluxo social é que consiste no ato individual. Quando explicita a
diferença entre público e multidão, afirma que o “publico poderia ser uma
multidão virtual” (1992, p. 38-49), mas admite a diversidade dos públicos e a
divergência existente entre os mesmos, que podem estar juntos por seu acordo
parcial em alguns pontos. Segundo o autor,
o público só pode começar a nascer
após o primeiro grande desenvolvimento da imprensa, no século XVI. O transporte
da força a distância não é nada, comparado a esse transporte do pensamento à
distância (...) um público especial só se delineia a partir do momento, difícil
de precisar, em que os homens dedicados aos mesmos estudos foram em número
demasiado grande para poderem se conhecer pessoalmente, percebendo que os
vínculos de uma certa solidariedade entre eles só se estabeleciam por relações
impessoais de uma freqüência e regularidades suficientes. (Tarde, 1992, p.
34-35)
Numa perspectiva histórica, Tarde foi o primeiro a teorizar a nova
forma de relação social da massa, a qual ele dá o nome de público. A opinião
deixa o campo da razão pura e da crítica e passa para o da socialização.
Jürgen Habermas (1978), credita a essas tendências históricas a
formação de uma esfera pública crítica. Segundo esse autor, o público ilustrado
do século XVIII ganhou força com a consolidação da burguesia e da crítica
liberal ao Estado Absolutista. Com o incremento de uma esfera pública ativa a
opinião emergiu como uma nova forma de autoridade política, que podia desafiar
o governo absolutista. Ele considera o sentido de opinião pública derivado do
Iluminismo como procedente do debate, do discurso racional. Assim, o debate é
público no sentido de procurar determinar o bem comum, a vontade comum, e não
significa apenas um encontro de várias individualidades; é público, também, no
sentido de sua abertura, ou do desejo de que haja uma participação efetiva das
partes; é, também, soberano e igualitário, ao operar independentemente do
status econômico e social, favorecendo mais as idéias do que o político; e,
ainda, deve ser alimentado pela publicização dos assuntos políticos e suas
consequências.
Essa noção de que a opinião pública transcende a opinião
individual e reflete um bem comum abstrato continuou influenciando o pensamento
até o século XX e está subjacente às tentativas de medir e quantificar a
opinião pública.
Os dados provenientes de sondagens de opiniões individuais são
reconhecidos por alguns investigadores atuais e rechaçados por outros. Entre os
que os reconhecem estão aqueles que consideram as sondagens como levantamentos
primários para o estudo da opinião pública. Já os autores críticos reclamam a
necessidade de um controle teórico, ou constante reflexão, sobre a formação da
opinião pública e a forma como esse processo funciona em cada época e
sociedade, sem descuidar do aspecto coletivo.
Price defende a simultaneidade das ações coletivas e individuais.
Segundo ele, é necessária alguma forma de compreensão dos processos de formação
da opinião pública, por meio de observações, medições e análises, sem
decompo-la em processos de opinião de indivíduos diferenciados. Assim, postula
que mais relevante do que estudar os públicos e opiniões em si, é preciso
conceituar “los procesos de comunicación por medio de los cuales se constituyem
los públicos e dentro de los cuales se formam las opiniones sobre questiones
públicas”. (1994, p.100)
O interesse pelo processo, por meio do qual se desenvolve o debate
público na atualidade e seu papel na sociedade, alimenta investigações em
várias áreas do conhecimento, com metodologias diversas como entrevistas
estruturadas (usadas especialmente em sondagens ou abordagens amostrais),
análise de conteúdo ou de discurso (dos conteúdos da mídia, de plataformas
políticas e documentos) e entrevistas em profundidade (especialmente com
grupos).
Segundo o dicionário Houaiss (2001, p. 2071), opinião pública é “o
acordo da totalidade, ou grande maioria, das opiniões de uma coletividade sobre
questões de interesse geral. Opinião que traduz a vontade popular, em assuntos
que dizem respeito à condução dos destinos de uma coletividade”.
Como vimos nessa breve historicização do processo de formação da
Opinião Pública o que emerge com mais recorrência é a imbricação deste com os
processos de discussão, debate e tomada de decisão. A base democrática do
conceito de opinião pública é indiscutível, mas as formas como esse conceito é
utilizado variam.
==========
Contribuições para o conceito de opinião pública
Rubens Figueiredo - Diretor do CEPAC
Sílvia Cervellini - Gerente de Planejamento e Atendimento do IBOPE
Opinião
......................................
Resumo
Os autores retomam algumas críticas sobre o problema da definição
de opinião pública e apresentam uma proposta conceitual que contempla quatro
aspectos. O primeiro aspecto diz respeito à opinião pública quanto ao processo
de formação, que deve ser o debate público; o segundo diz respeito à sua forma,
ou seja, a expressão pública da opinião; o terceiro é o objeto específico da
opinião, que diz respeito à relevância necessária para gerar o debate público.
Finalmente, o quarto aspecto é o sujeito da opinião pública, que não tem
limites precisos a não ser seu aspecto coletivo.
..........................................
As dificuldades enfrentadas por alguém que se aventure a
conceituar o que seja a opinião pública advêm de quatro ordens de fatores mais
relevantes. Em primeiro lugar, quando nos referimos à opinião pública,
agrupamos eventos e situações que se apresentam como objetos de estudo de
diferentes áreas das Ciências Humanas: Ciência Política, Sociologia,
Antropologia, Comunicação, Economia e Psicologia Social. Desse modo, uma
conceitualização que se pretenda universal deve utilizar os instrumentos dessas
diversas ciências, ou seja, a abordagem teria que ser necessariamente
multidisciplinar. Qualquer conceituação que dê ênfase a um aspecto específico -
a economia e suas expectativas racionais, por exemplo -, certamente pecará pelo
reducionismo.
Em segundo lugar, a expressão opinião pública faz parte da família
de conceitos que podem ser considerados clássicos em algumas ciências. No caso
da Ciência Política, por exemplo, a questão da opinião pública (a “lei da
opinião ou reputação”) aparece nos escritos de J. Locke como uma espécie de
substrato moral da sociedade. No Contrato Social, a opinião pública surge em
estreita correlação com a soberania popular, as leis, os costumes e a moral. O
fenômeno foi também estudado por pensadores importantes como Kant, Burke,
Benthan e Benjamin Constant3.
Em terceiro lugar, a “popularização elitizada” da expressão
emprestou uma amplitude à idéia de opinião pública que faz qualquer conceito
parecer limitado, ou radical, em termos de impor regras classificatórias muito
rígidas. Ademais, existe uma tendência da mídia a tratar os fenômenos de
opinião pública exatamente como “fenômenos”, algo fora do normal. Talvez os
exemplos mais marcantes sejam as campanhas das eleições diretas, que
“mobilizaram a opinião pública”, a morte de Ayrton Senna, que “consternou a
opinião pública” ou as atitudes de Collor, “que afrontaram a opinião pública”.
Dessa forma, retira-se do senso comum a possibilidade de entender como
“fenômenos de opinião pública” manifestações mais localizadas, no plano da quantidade
dos sujeitos, ou mais latentes, no plano do nível de expressão de opiniões.
Em quarto lugar, a idéia de opinião pública ficou muito
contaminada com o surgimento das pesquisas de opinião,na década de 1930 nos
EUA. Como o conceito de opinião pública é anterior às pesquisas e como as
pesquisas retratam os aspectos mais visíveis, interessantes e discutidos da
opinião pública, é natural que a associação pesquisa-opinião pública seja
feita, ainda que essa associação certamente não ajude no esforço de se
conceituar algo que, afinal, existe independentemente das pesquisas.
Para completar o quadro, Pierre Bordieu 4, em texto muito
comentado, defende a tese de que a opinião pública, simplesmente, não existe.
Associando opinião pública às pesquisas, Bordieu se apóia basicamente em três
argumentos contestatórios. Primeiro, nós pesquisadores partiríamos da errônea
premissa de que a produção de opinião esteja ao alcance de qualquer indivíduo.
Segundo, nós também partiríamos do falso pressuposto de que todas as opiniões
têm o mesmo valor. Por último, Bordieu duvida que os temas pesquisados sejam de
real interesse de todos os respondentes, ou seja, ele acredita que impomos
assuntos que nos parecem importantes, sem nos basearmos em um real consenso a
esse respeito.
O longo
debate e novas reflexões
Procurando sistematizar uma controvérsia de 200 anos, Harwood L.
Childs fez, em 1965, uma análise das diversas definições sobre opinião pública
e concluiu que todas pecavam por “confinar” o sentido da expressão com base em alguma
premissa limitadora, conforme mostra o quadro resumido abaixo.
Tabela 1 - Definições de opinião pública*
Tipo de definição
|
Limite
|
|
1.0
|
Julgamento
social ou consciência comunitária sobre questão de interesse
geral,
após discussão racional.
|
0
processo de formação da opinião pública não é sempre racional.
|
2.0
|
Sentimentos
sobre qualquer assunto entre grupo dos mais informados, inteligentes e
moralmente
superiores da sociedade
|
Elitiza
o sujeito da opinião pública. Não existem critérios objetivos para definir
quem sejam os “moralmente superiores”.
|
3.0
|
Quando
o grupo envolvido é secundário, sem intermediações, sem contato direto com a
fonte.
|
Restringe
mais uma vez o sujeito da opinião pública.
|
4.0
|
Atitudes,
sentimentos e idéias de um
grande
número de pessoas sobre um
assunto
público importante
|
Limita
os fenômenos a assuntos públicos importantes desconsiderando aqueles que
podem
vir a ser importantes.
|
5.0
|
Opinião
que, embora não
necessariamente
consensual, seja
majoritariamente
aceita.
|
Não
lida com as freqüentes situações de conflito.
|
6.0
|
Opinião
pública é um composto de
número
e intensidade de opiniões.
|
Número
e intensidade qualificam, e não definem, opinião pública.
|
7.0
|
Reações
e afirmações definidas em uma
situação
de entrevista.
|
Opera
um reducionismo, pois associa a opinião pública ao momento da entrevista.
|
8.0
|
Opiniões
das pessoas que o governo
acha
por bem conhecer e seguir.
|
Restringe
o sujeito e os temas da opinião pública.
|
*Tabela preparada pelos autores a partir de sistematização das
informações sobre H. L. Childs, citadas in Oskamp (1977).
Acreditando estar resolvendo definitivamente a questão, Childs
define opinião pública como “coleção de (quaisquer) opiniões individuais”. Na
verdade Childs, ao tentar resolver um problema - a limitação que várias
definições impõem a opinião pública - acaba criando outro, pois propõe uma
definição extremamente genérica que, a rigor, não define nada. No limite, a
opinião de um casal sobre um determinado sapato poderia ser interpretada como
um fenômeno de opinião pública, na medida em que se trata de uma “coleção de
opiniões individuais”.
Certamente o senso comum associa mais freqüentemente a idéia de
opinião pública aos resultados das pesquisas, provavelmente porque essa é sua
forma concreta mais óbvia e mais divulgada nos dias de hoje. Mas além do
público em geral, muitos analistas preferem compreender a opinião pública como
o resultado que se verifica nas pesquisas. Essa identificação traz vários
problemas, muito bem expostos em um texto de Bernard Manin, “Le concept
d'opinion publique”6. Neste texto o autor descreve as 3 dimensões básicas no
debate entre críticos e defensores das pesquisas, mostrando que elas
correspondem às diferenças essenciais de conceituação da opinião pública.
A primeira dimensão é paralela à limitação, criticada por Childs,
em relação ao tipo de público que pode ser o ator da opinião pública. Os
críticos das pesquisas não aceitam que igualemos todas as opiniões individuais,
dando o mesmo peso para segmentos mais ou menos politizados, organizados,
influentes, escolarizados ou informados sobre o tema pesquisado.
Os defensores das pesquisas rebatem dizendo que com o advento do
sufrágio universal cada voto vale um voto, independentemente da qualificação do
eleitor. Em termos de organização, influência e informação, os comícios do PT
em 1989 e 1994 foram muito mais ruidosos, organizados e concorridos do que os
de seus adversários, mas nem por isso o candidato petista venceu seus
concorrentes.
Finalmente, com relação à informação, os defensores das pesquisas
argumentam que opinião é diferente de conhecimento. Do ponto de vista
psicológico, a opinião está mais perto das crenças do que de atitudes formadas
sobre bases absolutamente racionais e bem informadas7.
A segunda vertente das críticas centra-se na idéia de que as
pesquisas estariam medindo algo completamente diferente das definições
históricas de opinião pública, localizadas no final do século XVIII e começo do
século XIX. Naquele contexto, a opinião pública era encarada como base de
legitimação da democracia (contratualismo) e o requisito básico para tal seria
a existência de uma deliberação racional, exprimindo um interesse geral
resultante. Habermas, um dos expoentes dessa vertente, coloca a opinião
pública, tal como aparece atualmente, como parte do que ele considera uma
deterioração da rede comunicativa embasada em um debate racional entre
cidadãos. Conforme explica Manin8, para Habermas as pesquisas medem “opiniões
comuns” mas não “opinião pública”. A racionalidade, dentro da tradição da
Escola de Frankfurt, deve ser o caminho para a utopia da emancipação e só
existe ao lado de uma “discussão pública, que não sofre restrições e que é
isenta de dominação, sobre a adequação e a conveniência de princípios e normas
que orientem o agir à luz dos reflexos sócio-culturais.... Uma comunicação
dessa espécie, em todos os níveis dos processos políticos e repolitizados de
formação da vontade”9. Trata-se, portanto, de uma visão racionalista da opinião
pública, que estaria deslegitimando qualquer manifestação pública baseada em
fatores de caráter mais emocional, ou debates que Habermas consideraria
despolitizados.
A terceira dimensão da polêmica é paralela à anterior, pois usa
como ideal de opinião pública aquela que se origine de uma discussão espontânea
entre atores livres de influências externas e que serviria de base para a vida
democrática. Conforme descreve Susan Herbst10, Pierre Bordieu, no seu texto “A
Opinião Pública não Existe”, levanta a questão da imposição de problemáticas
aos entrevistados, que se estivessem livres da pressão não escolheriam aqueles
temas para opinar. Nesse sentido, nós pesquisadores estaríamos fazendo parte de
uma elite que controla o teor das discussões públicas.
7 “Um dos
mais interessantes aspectos sobre questões públicas é o grau em que as pessoas
preferem sustentar opiniões 'vigorosas' em matérias sobre as quais não possuem
quase informação nenhuma”. Lane e Sears (1966).
Uma
proposta conceitual inicial
Retomando essas críticas, podemos dizer que parte dos problemas da
definição de opinião pública são realmente conseqüência de sua identificação
com as pesquisas: o peso de cada indivíduo, a espontaneidade, a deliberação.
Para evitar isso, pretendemos, seguindo a sugestão de Manin11, conceber a opinião
pública levando em conta a sua pluralidade. Segundo essa idéia, não existe uma,
mas várias maneiras de identificar os fenômenos de opinião pública. Faria
sentido falar em “opiniões públicas”. Assim, “a” opinião pública se expressa
através dos grupos organizados, das manifestações mais ou menos espontâneas,
das pesquisas, das eleições, dos comícios, das discussões em reuniões sociais,
dos meios de comunicação etc. Nesse sentido, a opinião pública não designa
apenas uma coisa, mas várias. Isso porque a coletividade também não tem uma
única forma de se manifestar, mas diversas.
Um dos pioneiros na tentativa de conceituar opinião pública na
sociedade moderna foi Walter Lippman12. Ele alertava para o fato de que o mundo
onde vivemos é muito vasto e complexo para que cada um de nós possa apreendê-lo
sozinho, de forma independente. Hoje, ao formarmos uma opinião sobre qualquer
assunto, teremos necessariamente que contar com informações produzidas e
veiculadas por instituições e não obtidas exclusivamente de nossa experiência
individual, se é que existe experiência exclusivamente pessoal13.
Isso chama atenção para o primeiro aspecto de nossa proposta de
conceito de opinião pública, que diz respeito à sua origem ou ao processo de
sua formação. Ela deve se originar do debate público, ou seja, de um processo
de discussão coletiva, implícito ou explícito. A diferença entre esse requisito
e a idéia de “discussão pública” usada por Habermas14 é que não impomos “a
priori” um tipo de racionalidade ao debate, nem esquecemos que concretamente
falando, numa sociedade de massas as discussões podem se dar de maneiras
difusas e muito complexas, sem que fiquem explicitadas. Até mesmo o processo de
transmissão de comportamentos, via educação formal e informal, pode ser encarado
como uma discussão coletiva.
Um segundo elemento do conceito diz respeito à sua forma. Trata-se
da necessidade de que haja expressão pública da opinião, pois isso seria um
pré-requisito ao debate. Daí a mportância das pesquisas, pois elas são capazes
de expressar aspectos latentes do conjunto dos pensamentos individuais e,
portanto, da própria sociedade. Talvez possamos dizer que as pesquisas são uma
das formas em que a deliberação ocorre hoje em dia, funcionando como veículos
de troca de informações sobre temas que já estão sendo discutidos e pensados
por alguns grupos ou pessoas, mas que nem por isso são totalmente estranhos aos
outros. Lippmann15 é bem realista ao dizer que em um sistema como o nosso os
cidadãos não têm que ser interessados, bem informados e dispostos a tratar de
todos os assuntos da vida pública com a mesma dedicação que cuidam de seus
problemas privados, tendo sido criadas instituições e mecanismos que dão conta
disso.
A definição de opinião pública deve também pressupor um objeto específico.
Assim, o tema que gera a opinião deve ser relevante o suficiente para gerar a
discussão pública. Isso significa dizer que o tema tem que ser, em alguma
medida, público, ao menos para que os participantes do debate se ponham
minimamente de acordo a respeito do que está sendo debatido. A opinião de um
homem casado sobre sua sogra, por exemplo, não é um fenômeno de opinião
pública. No entanto, se de alguma forma essa opinião ganha relevância pública -
se esse é o ponto principal da trama de uma novela de grande audiência ou uma
questão que envolva o presidente da República -, a opinião daqueles que
discutem o tema passa a ser uma manifestação de opinião pública.
Por último, quanto ao sujeito da opinião pública, não acreditamos
haver nenhuma limitação, a não ser o aspecto coletivo, ou seja, a opinião
pública tem que corresponder à opinião de um grupo de pessoas que tenham
algumas características comuns, não importando se pertençam a elite ou a massa,
se são informados ou não ou se formam a opinião de maneira racional ou
emocional. Nesse contexto, as manifestações de minorias - por mais
“minoritárias” que sejam -devem ser consideradas igualmente como uma das formas
de manifestação da opinião pública.
Faz sentido chamar de opinião pública, segundo o raciocínio que
está sendo desenvolvido, todo fenômeno que, tendo origem em um processo de
discussão coletiva e que se refira a um tema de relevância pública (ainda que
não diga respeito à toda a sociedade), esteja sendo expresso publicamente, seja
por sujeitos individuais em situações diversas, seja em manifestações
coletivas.
Nos parece que uma conceituação como essa fica a meio caminho entre as definições segmentadas expostas na primeira tabela, que certamente restringem o entendimento do tema, e a definição proposta por Childs, cuja abrangência e permissividade colocam no âmbito da opinião pública uma série enorme de acontecimentos que tomam o coletivo pelo público.
Nos parece que uma conceituação como essa fica a meio caminho entre as definições segmentadas expostas na primeira tabela, que certamente restringem o entendimento do tema, e a definição proposta por Childs, cuja abrangência e permissividade colocam no âmbito da opinião pública uma série enorme de acontecimentos que tomam o coletivo pelo público.
As grandes
lacunas
Em seu livro, The Nature and Origins of Mass Public Opinion,
Zaller16 faz uma crítica a todos nós, estudiosos da opinião pública, por não
existirem esforços consistentes de se criar uma teoria geral, algo que tivesse
uma validade mais abrangente, dando conta das diversas dinâmicas já relatadas
em estudos individuais, a partir de fenômenos isolados.
Podemos lembrar de alguns modelos que mudaram o rumo dos estudos
de opinião pública, principalmente na área de comportamento político e
eleitoral, tais como “the spiral of silence”, “the agenda setting”, “the
two-step flow of communication”. O que Zaller questiona é não procurarmos
extrapolar esses modelos para outros contextos de opinião pública e
principalmente não procurarmos conectá-los ou contrapô-los a fim de chegar a
modelos mais gerais.
Nesse sentido, apesar de não ser um modelo geral, a definição de
algumas “propriedades da opinião pública” é um avanço e foi uma tarefa bem
desempenhada por Key17, tratando de alguns níveis de abordagem muito úteis para
a descrição e análise das manifestações de opinião pública: distribuição,
direção, intensidade, coerência e latência.
Distribuição é a forma como as opiniões individuais sobre um tema
estão agrupadas. Assim, podemos encontrar situações de consenso absoluto, onde
todos têm a mesma opinião, até uma situação detotal dissenso, ondecada um tem
uma opinião diferente. A distribuição observada nos dá, portanto, uma idéia do
possível conflito em torno de algum assunto. Citando um exemplo recente, a lei
da Prefeitura de São Paulo proibindo o consumo de cigarros em bares e
restaurantes é apoiada, segundo dados divulgados pelo Instituto Datafolha e
pelo IBOPE, por cerca de três quartos dos eleitores. Apesar de toda a polêmica
que aparece na imprensa, as pesquisas indicam que não existe um clima real de
conflito e que a lei provavelmente está sendo obedecida sem grande resistência
por parte dos freqüentadores de bares e restaurantes.
Quando falamos da direção da opinião pública, estamos nos
referindo a um posicionamento que aparece ao analisar-se o conjunto das
opiniões a respeito do tema em questão. A análise da direção da opinião pública
pressupõe que para cada tema de interesse público existem escolhas a serem
feitas. A direção informa basicamente se determinado grupo está a favor ou contra
alguma coisa. Quando as pesquisas mostram que 63% dos eleitores apóiam o Plano
Real, temos uma indicação da inclinação favorável da opinião pública sobre esse
assunto.
Além da distribuição e da direção, outra característica muito
importante para se descrever satisfatoriamente uma manifestação de opinião
pública é a intensidade. Esta propriedade indica o grau de adesão a cada
opinião, dando uma medida de força da manifestação. Pode-se imaginar facilmente
que os efeitos de uma situação onde a opinião pública é muito intensa são bem
diferentes daqueles onde a força da adesão é menor. Durante a reforma
constitucional de 1995, a maioria da opinião pública era favorável ao fim do
monopólio estatal do petróleo. Mas a intensidade, o grau de adesão a essa tese,
era muito menor do que o da minoria que era contrária à mudança, e que realizou
ruidosas e seguidas manifestações contra o fim do monopólio.
Além de perceber para onde a opinião pública está apontando
através de medidas de direção, com que nível de conflito, observando a
distribuição e com que força, medindo sua intensidade, a outra propriedade
presente na maioria das análises sobre fenômenos de opinião pública é a
coerência ou consistência interna dos fenômenos.
Seguindo sua abordagem de tratar osdados em nível agregado,
Everett Ladd18 fez uma análise das tendências da opinião pública americana
sobre aborto. Em uma mesma pesquisa, 51 % dos entrevistados concordaram com a
frase “toda mulher tem o direito de controlar o seu próprio corpo”, mas também
80% se opuseram à idéia de usar o aborto como forma de controle de natalidade.
O analista interpretou tais dados como um desejo dos americanos em manter a
liberdade individual, mas ao mesmo tempo forçar mais responsabilidade nas
pessoas. Neste caso trata-se de uma incoerência lógica, mas que pode ter uma
interpretação plausível19.
Esta combinação de distribuições de opinião logicamente
antagônicas entre si pode ser um indicador de que as decisões estão muito
frágeis sobre o tema e que uma argumentação convincente pode fazer a opinião
pública mudar muito rápido. Ainda olhando a análise dos técnicos do Roper
Center, duas pesquisas feitas na mesma época mas usando perguntas um pouco
diversas entre si obtiveram resultados significativamente diferentes de
aprovação à decisão da Suprema Corte em permitir que cada Estado adotasse medidas
restritivas ao aborto.
A abordagem mais clássica da propriedade da coerência, porém, é
aquela que foca as incoerências no nível da opinião individual, através de
cruzamentos das respostas de um mesmo indivíduo a várias perguntas diferentes
mas ligadas ao mesmo assunto. Um dos autores que refletiu e estudou muito sobre
tais incoerências foi Philip Converse20. Baseado em um famoso experimento,
Converse defendeu em 1964 a tese de que quando os temas de opinião pública não
têm grande saliência para os indivíduos ou são difíceis para a maioria
entender, a probabilidade de que as opiniões sejam artificiais e sem nenhuma
estabilidade é muito grande. A partir disso ele criou o conceito de
“não-atitudes”. Uma não-atitude é a ausência de uma atitude real, ou seja, é
uma opinião que a pessoa dá sobre certos assuntos sem qualquer consistência,
vazia de conteúdo.
Desafiando as conclusões pessimistas de Phillip Converse, Page e
Shapiro escreveram recentemente um livro chamado The Rational Public21. Estes
dois autores procuram demonstrar, através da análise de 50 anos de dados de
pesquisas de opinião pública feitas nos Estados Unidos, que a opinião coletiva
é estável e faz bastante sentido, a despeito da fraqueza das opiniões
individuais. Isto resulta do que eles chamam de “efeito de agregação
estatística”, além do processo social de formação das opiniões. Os autores
utilizaram teoremas matemáticos para provar que o resultado obtido para uma
opinião coletiva é igual à média das tendências centrais de cada indivíduo e que,
portanto, a média geral reflete a verdadeira tendência central da opinião
pública. Além da explicação matemática, estes autores nos lembram que cada
indivíduo traz para a discussão coletiva um pouco de informação, evitando que
as opiniões se baseiem em dados incompletos ou enviesados.
Após analisarem um sub-grupo de 1.128 perguntas que foram
repetidas da mesma forma pelo menos duas vezes ao longo de cinqüenta anos, eles
descobriram um nível de estabilidade incrível na opinião pública americana.
Somente em 42% destas perguntas houve uma mudança significativa na distribuição
das opiniões e destas, 43% foram diferenças de menos de 10 pontos percentuais,
ou seja, muito pequenas para serem sinais de grande instabilidade.
A última propriedade da opinião pública que merece ser citada é a
latência. O cientista político V. O. Key22 descreve esta propriedade como uma
avaliação do estado de “hibernação” da opinião pública em oposição à
“ativação”. Um fenômeno de opinião pública latente é aquele onde existe um
potencial para uma manifestação, mas ainda não houve explicitação da opinião,
ou seja, ela ainda não se tornou pública. A passagem do estado latente para o
ativo vai depender da relevância e do nível de relação que o estímulo ativador
mantém com os valores, crenças e atitudes básicos do indivíduo. Para lembrar
uma passagem recente, quando o ex-presidente Collor em 1992 incitou os cidadãos
a saírem às ruas de verde-amarelo para protestar contra as denúncias feitas
contra ele, o que ele fez foi “ativar” o sentimento de repulsa da sociedade,
que fez o contrário: os indivíduos preferiram sair vestidos de negro para
demonstrarem seu descontentamento com a situação.
As pesquisas quantitativas possibilitam a análise de dados de
opinião pública em relação a todas estas propriedades: distribuição, direção,
intensidade, coerência e latência. No entanto, a simples observação de outras
formas de manifestação da opinião pública pode fornecer indícios suficientes
para uma classificação de um certo contexto como polarizado ou consensual,
latente ou ativo, coerente ou incoerente etc.
A idéia de propriedades e a sua utilização enquanto instrumento
analítico é importante, pois cada propriedade relaciona-se a um aspecto que
auxilia na previsão de futuros movimentos ou efeitos das manifestações de
opinião na vida da sociedade. Essas relações estão esquematizadas no quadro
abaixo :
Tabela 2
Propriedades
da opinião pública e dimensões previsíveis
Propriedades da opinião pública
|
Dimensões previsíveis
|
direção
|
conteúdo
da escolha
|
distribuição
|
nível de conflito
|
intensidade
|
força de reação
|
coerência
|
estabilidade
|
latência
|
expressão de reação
|
Deve-se tomar cuidado, porém, com o nível de generalização das
interpretações feitas com base em apenas um dos tipos de manifestação da
opinião pública, pois um mesmo tema pode gerar reações diferenciadas que se
expressam de formas diferentes nos sub-grupos existentes na sociedade ou
comunidade em questão. Na verdade, voltamos à discussão da importância de um
esforço conjunto dos pesquisadores de fenômenos de opinião pública para criar
uma lista de possíveis generalizações em relação a estas propriedades e como
elas aparecem em uma situação compartimentada e multifacetada, como são
normalmente as que lidamos no dia-a-dia profissional.
Parece-nos que a questão central por onde deveríamos iniciar tal
esforço é a das diferenciações internas à opinião pública, ou seja, a
polaridade já definida como massa/elites, experts/não-experts, público
interessado/desinteressado, formadores -disseminadores/ receptores etc. Será
tal diferenciação inerente ao conceito e a operacionalização da opinião
pública? Será que realmente existem pessoas sem opinião sobre determinados
assuntos? Trata-se de uma diferenciação essencial ou contextual, isto é, cada
indivíduo pode e efetivamente assume o papel de expert ou de desinformado
dependendo do tema tratado?
Zaller23, por exemplo, defende a idéia de que obtemos nas
pesquisas “opiniões temporárias”, pois cada indivíduo tem várias “opiniões
potenciais” para um mesmo assunto, formando uma opinião específica de acordo
com o contexto do momento da pesquisa. Perguntaríamos, portanto, se existem
diferenças de capacidade para formar estas opiniões específicas e em caso
positivo, o que isso significa para os movimentos da opinião pública?
A contrapartida é a tese de Page e Shapiro24, defendendo a
consistência e estabilidade das correntes de opinião pública como um todo,
independente das diferenciações individuais. Esta tese contraria totalmente a
crença de que a opinião pública é algo facilmente manipulável por forças
externas. Para eles, a opinião pública é o resultante de todas as forças envolvidas,
podendo ser encarada como um sinal claro de uma sociedade sobre os rumos que
está tomando.
O tema, como se vê, é amplo. Esse artigo pretendeu chamar a
atenção para as dificuldades que o assunto apresenta, balizar algumas polêmicas
e realçar a inexistência de uma conceituação de opinião pública que seja
passível de ser aceita pelas diversas disciplinas entre os autores estudados, e
que tenha como característica simultânea a capacidade de não ser tão restritiva
(seja por elitismo, exigir racionalismo, buscar o consenso etc.) a ponto de
limitar a discussão a um grupo minúsculo de fenômenos, de um lado, nem tão
generosa a ponto de colocar no campo da opinião pública qualquer tipo de
relacionamento social, por outro. A continuidade desse tipo de discussão
servirá para definir melhor o nosso próprio papel de pesquisadores, na medida
em que os limites de nossa atividade estão necessariamente ligados à nossa
compreensão dos limites do nosso próprio objeto de estudo: a opinião pública.
=====================
FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA
OPINIÃO PÚBLICA
Sidinéia Gomes Freitas
Professora da Universidade de São Paulo
INTRODUÇÃO
Falar de opinião
pública é assunto apaixonante e controverso. Isto posto, fica ainda mais
difícil darmos um passo além e analisarmos o tema: Formação e desenvolvimento
da opinião pública.
Pela profundidade do
assunto, temos consciência de que não o esgotaremos, mas sim indicaremos alguns
parâmetros para a sua discussão.
CONCEITO DE OPINIÃO PÚBLICA
Na verdade, o
conceito de opinião pública vem se transformando através dos tempos. No século
XIX ocorreu a primeira revolução industrial, surgiu a imprensa e as
reivindicações deixaram de representar apenas os interesses de um grupo
dominante, abrangendo caráter não só político, mas também social e econômico.
Os estudiosos da
opinião pública consideram-na, antes de qualquer coisa, um estudo
essencialmente interdisciplinar que envolve a Sociologia, a Psicologia Social,
a Ciência Política e outras.
A reflexão nos leva,
automaticamente, a lembrarmos de grupo, de público, de atitude de maioria, de
opinião, do indivíduo no grupo, no público.
A professora Sarah
Chucid da Viá refere-se à definição de Kimbal Young: “Opinião é conjunto de
crenças a respeito de temas controvertidos ou relacionados com interpretação
valorativa ou o significado moral de certos fatos”[1].
Monique Augras afirma
“a opinião é um fenômeno social. Existe apenas em relação a um grupo, é um dos
modos de expressão desse grupo e difunde-se utilizando as redes de comunicação
do grupo”[2].
De fato, a opinião
tem sua origem nos grupos, mas só assim não caracterizaremos a opinião pública,
porque esses grupos transformam-se em públicos quando se organizam em torno das
controvérsias, com ou sem contigüidade espacial, discutem, informam-se,
refletem, criticam e procuram uma atitude comum, e atitude para a professora
Sarah Chucid da Viá “é uma tendência para atuar, agir. Relaciona-se com os
hábitos, com os comportamentos e transforma-se em opinião quando adquire um
caráter verbal e simbólico”[3], mas onde fica o indivíduo na opinião pública?
Ora, todos nós
sabemos que o indivíduo, o ser humano, é um ser social e não vive sozinho. No
mínimo pertencerá ao grupo primário “família”. Na verdade, ainda não se sabe
qual é a real natureza do termo opinião pública, mas analisando o que dizem os
especialistas podemos encontrar pontos de destaque sobre o assunto. Vejamos:
a opinião pública
está diretamente relacionada a um fenômeno social que poderá ou não ter
caráter político;
|
|
é um pouco mais que
a simples soma das opiniões;
|
|
é influenciada pelo
sistema social de um país, de uma comunidade;
|
|
é influenciada
pelos veículos de comunicação massiva;
|
|
poderá ou não ter
origem na opinião resultante da formação do público;
|
|
não deve ser
confundida com a vontade popular, pois esta se relaciona aos sentimentos
individuais mais profundos;
|
|
depende e resulta
de uma elaboração maior;
|
|
não é estática, é
dinâmica.
|
Convém aqui destacar
que a opinião de um grupo não é a opinião do público, e a melhor forma de
esclarecermos o assunto ainda é o exemplo.
Assim, sabemos que no
grupo primário “família”, a hierarquia, bem como a comunicação face a face,
interfere na discussão que é mais do tipo democrático direto, onde geralmente a
opinião preponderante é a do líder do grupo (o chefe da família, por exemplo).
No grupo primário
“família”, os problemas são mais concretos, mas nas sociedades mais complexas,
os grupos secundários (escola, igreja) caracterizam-se por apresentarem
indivíduos com multiplicidade de tarefas e de atividades, e os problemas
tornam-se mais abstratos, bem como as relações também se tornam mais abstratas
e surge a controvérsia que, a meu ver, é a origem da formação do público.
A essa altura, surge
o indivíduo no público que, segundo o Prof. Dr. Cândido Teobaldo de Souza
Andrade:
Não perde a
faculdade de crítica e autocontrole;
|
|
está disposto a
intensificar sua habilidade de crítica e de discussão frente a controvérsia;
|
|
age racionalmente
através de sua opinião, mas está disposto a fazer concessões e compartilhar
de experiência alheia.[4]
|
Seria bom se
estivéssemos sempre diante de públicos e de indivíduos no público, mas Monique
Augras nos diz que “A opinião pública é, declaradamente, uma alavanca na mão do
demagogo. Daí em diante aparecerá um duplo aspecto: expressão genuína da
vontade do povo e meio de manipulação desse povo”[5]. Nas sociedades complexas nem
sempre a opinião pública influencia e determina ações, sejam tais ações de
caráter puramente social, ou de caráter político e econômico. Por isso,
precisamos verificar que fatores interferem na formação e no desenvolvimento da
opinião pública.
OPINIÃO PÚBLICA: FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Além da classificação
dos grupos, os fatores sociais, os psicológicos, a persuasão e os veículos de
comunicação massiva interferem na formação e desenvolvimento da opinião
pública.
No sentido de
facilitarmos a análise isolaremos as interferências.
Fatores Sociais
O tipo de sociedade
ao qual pertencemos, nossa classe social e as várias relações estabelecidas
interferem na formação da opinião pública. Nas sociedades mais estáticas as
opiniões são mais permanentes e se aproximam mais de crenças, enquanto que em
sociedades mais dinâmicas os indivíduos tendem a mudar de opinião e devido à
grande mobilidade social, opiniões se transformam ou até mesmo desaparecem.
Os grandes centros
urbanos apresentam grande mobilidade social diferenciando-se da população concentrada
em aldeias rurais, onde há mais dificuldades nos contatos e nas informações.
A classe social
também interfere na formação da opinião. “Marx afirma que toda a opinião é
opinião de classe, uma opinião determinada pelo grupo social em que se vive”, nos
lembra a professora Sarah C. da Via.[6]
Os Fatores Psicológicos e a Persuasão
Os fatores
psicológicos são os que melhor explicam a formação da opinião pública, pois
opinião relaciona-se com o conjunto de crença e ideologia de um indivíduo que
tem disposição para expressar-se (caso não se expresse trata-se de uma atitude
latente) e “a opinião seria um dos modos de expressão dessa disposição,
surgindo a propósito de um acontecimento determinado. Sendo essencialmente
expressão, a opinião é de natureza comunicativa e interpessoal. Serve de
mediadora entre o mundo exterior e a pessoa sob dois aspectos: 1) adaptação à
realidade e ao grupo; 2) exteriorização”, nos lembra a professora Sarah C. da
Viá.[7]
Ainda considerando a
identificação, a projeção e a rejeição iremos encontrar os estereótipos criados
nas sociedades de massa onde os fatores afetivos e irracionais funcionam com
maior intensidade.
Os estereótipos
apresentam algumas características que auxiliam sobremaneira a formação e
desenvolvimento da opinião pública. Vejamos:
o estereótipo é
persistente, pode permanecer por gerações;
|
|
é elaborado por um
grupo para definir-se ou definir outro grupo;
|
|
Apresentam a imagem
idealizada do próprio grupo;
|
|
apresenta a
esquematização, onde as qualidades de um objeto são reduzidas a uma só;
|
|
engloba todos em
único conceito;
|
|
tem função
compensatória de frustrações, assim, o outro grupo passa a ser
responsabilizado pelas frustrações.
|
Os estereótipos são,
de fato, fantasias, mas fantasias que determinam atitudes que podem levar à
ação. Pessoas, frases, modelos podem transformar-se em estereótipos.
Criar estereótipos,
alterar e induzir opiniões irá requerer a persuasão. A persuasão tem na
propaganda sua melhor arma de ação, pois a propaganda pode ser definida como
técnica que manipula as representações, os estereótipos e influencia nas ações
humanas, nas atitudes das pessoas. Por outro lado, sabemos que o homem é um ser
social, é passível de influência e, portanto, pode ser persuadido. Quer e deseja
a aprovação social.
PÚBLICO E OPINIÃO PÚBLICA
O professor Cândido
Teobaldo de Souza Andrade e quase todas as obras que falam de Relações Públicas
admitem a existência de grupos, mas sabem que um grupo pode ou não se
constituir como um público. Desta forma, chegamos às características da opinião
pública que, segundo o professor Teobaldo, fica assim caracterizada:
não é uma opinião
unânime;
|
|
não é,
necessariamente, a opinião da maioria;
|
|
normalmente é
diferente da opinião de qualquer elemento do público;
|
|
é uma opinião
composta, formada das diversas opiniões existentes no público;
|
|
está em contínuo
processo de formação das diversas opiniões existentes no público;
|
|
está em contínuo
processo de formação e em direção a um consenso completo, sem nunca
alcançá-lo.[10]
|
Sabemos que os grupos
de interesse, as pessoas interessadas e os espectadores constituem o público.
Os grupos de
interesse têm importante papel na formação da opinião pública e, mais uma vez,
o professor Teobaldo nos lembra que os grupos de interesse colocam a
controvérsia e esforçam-se para obter aliados entre os desinteressados.
De fato, a opinião
pública deve funcionar como fiscal necessário e, para que isto ocorra, os seres
racionais devem tornar-se cada vez mais racionais, mas vivemos em uma sociedade
de massas onde o interesse privado geralmente se sobrepõe ao interesse público.
Hoje, o que temos é a multidão, que foi característica da antiguidade e da Idade
Média. Temos a massa de consumidores. Onde está o público?
A opinião pública não
é resultado do impulso de multidões passageiras que, excitadas por um fato novo
e na fantasia criada pelos estereótipos e apaixonada por seus oradores,
precisam adquirir a exata consciência de nação.
Precisamos não só
informar, mas principalmente formar, e Canfield já registrava: “No seu papel de
divulgar informações ao público, o profissional de Relações Públicas ocupa uma
posição chave na formação de uma opinião pública esclarecida”[12].
OBSERVAÇÕES FINAIS
A controvérsia deve
ser vista como fato natural em uma sociedade mais evoluída. Assim, a iniciativa
privada e o governo devem acostumar-se a discutir.
Não é porque uma
empresa é alvo de críticas, que deixará de existir. Pelo contrário, é
necessário que se estabeleça o diálogo e que os empresários assumam sua
responsabilidade social, pois o público não só deseja, mas principalmente
merece explicações.
A estes aspectos,
devemos incluir a administração da controvérsia e, neste caso, a profa. Sarah
C. da Viá nos traz as diferenças no tratamento da informação, quando diz: “Numa
comunidade de públicos, a discussão é o meio de comunicação fundamental, e os veículos
de comunicação de massa, quando existem, apenas ampliam e animam a discussão,
ligando um grupo primário com as discussões de outro”[16].
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ResponderExcluirLays, anote meu e-mail:
Excluirrobervi@ufpa.br