O papel da mídia na formação da opinião pública: a contribuição de Bourdieu
Carla Luciane
Blum Vestena
Professora do Departamento de
Pedagogia - UNICENTRO/Guarapuava(PR).
Email:
clbvestena@gmail.com
Guairacá
- Guarapuava, Paraná n.24 p.9-22 2008
Resumo: Este estudo tem por
objetivo refletir sobre a mídia e sua influência na formação da opinião
pública, com base na teoria de Bourdieu. Inicialmente, apresentam-se os
conceitos do que é mídia e do que é opinião pública e, posteriormente,
aborda-se seu papel na formação das percepções e concepções da sociedade. A
metodologia adotada pautou-se por um levantamento bibliográfico dos propósitos
expostos por Bourdieu que, em seus estudos, concluiu que são os mecanismos de
reprodução social que legitimam as diversas formas de dominação. Verificou-se
que a violência simbólica permeia também os meios de comunicação, que a mídia
exerce influência na formação da opinião pública, porém com certas restrições,
e que os propósitos de Bourdieu são importantes na análise do papel da mídia na
formação da opinião pública.
Palavras-chave: mídia;
formação de opinião; Bourdieu.
Abstract:The aim of this work was to think over
the media and its influence on formation of public opinion, having as support
the Bourdieu’s theory. It presents the concept of media and public opinion, and
think about their paper on the formation of perceptions and conceptions of the
society. The methodology focused on a bibliographical study about Bourdieu’s
theory, who assumed that the mechanisms of the social reproduction legitimate
the several dominance forms. It was ended that: the symbolic violence also
permeates the communication system; the media exercises influence over the
formation of public opinion, however with certain restrictions; and Bourdieu’s
purposes are important to analyse the paper of the media on the formation of
public opinion.
Key-words: media; Bourdieu’s theory; opinion formation.
Introdução
Em seus estudos sobre violência,
Bourdieu e Passeron (1975) desenvolveram conceitos específicos, retirando os
fatores econômicos do epicentro das análises da sociedade, a partir de um
conceito concebido como violência simbólica. Também, defenderam a não
arbitrariedade da produção simbólica na vida social, advertindo para seu
caráter efetivamente legitimador das forças dominantes, que se expressam por
meio de gostos de classee estilos de vida, gerando aquilo que ele reconhece
como distinçãosocial.
Com base nessa teoria, será
analisado o papel da mídia na formação da opinião pública, por meio dos
conceitos fundamentais de mundo social concebidos por Bourdieu, como sendo
campo, habitus e capital.
Desvendamento do campo de
análise: a mídia Em meados de 1950, os pensadores da Escola de Frankfurt atribuíram,
ao então nascente “mundo-mídia”, um poder totalizante. Ao longo dessas décadas,
o conceito de comunicação foi se transmutando até chegar hoje ao que Albino
Rubim, em 2005, define como um conjunto de meios diferentes, cada vez mais
refinados tecnologicamente.
Mídia não é tão-somente o aparato
tecnológico. Há que se compreender mídia como associação de um suporte
tecnológico, uma linguagem adequada e uma estratégia de ação precisa e clara
(SANTARENO, 2007).
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1 Surgiu em 1923, da iniciativa
de pensadores alemães em formarem o Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt,
com o objetivo de realizar um exame crítico da sociedade em geral e em seus
aspectos econômicos, culturais e de produção de conhecimento - a partir de uma
perspectiva marxista renovada (não presa ao historicismo e materialismo).
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Na década de 1980, o conceito de
opinião pública era diversificado, não existindo um consenso nas Ciências
Sociais, tanto em relação ao conceito quanto a sua formação. A teoria mais
conhecida é a que procura explicar o processo de formação da opinião pública
por meio do modelo cascata. Para Lima (2005), o modelo cascata, explica a
formação da opinião pública, como “resultado de um fluxo linear de informações
do topo da pirâmide social até as ditas classes populares”. Às lideranças das
elites sociais resta emitir suas opiniões, através dos meios de comunicação,
para que as massas ignorantes as absorvam como suas novas verdades.
Na maioria das vezes, “a
literatura elitista3 apresenta a opinião pública como o resultado de uma série
de processos sociais, nos quais há uma interação muito grande de elementos
emocionais e manipulativos” (LIPPMANN, 1997), aliados “à pouca racionalidade”
(LE BON, 1999).
No entanto, ao ser considerado
como fator relevante para o funcionamento da democracia, a opinião pública foi
conceituada por Bobbio (1998) como “pública” em um duplo sentido. Primeiro,
“porque ela surge do debate público” e, segundo, “porque seu objeto é qualquer
coisa”, desde que seja de domínio público. Sendo assim, opinião pública, para
ele, é:
(...) uma
opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro agregado social,
expressa de maneira livre por homens que estão fora
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2 Segundo essa proposta, a
opinião pública se formaria a partir de pequenos grupos, situados no topo da
pirâmide social e depois viria “descendo”, por degraus, até a base da pirâmide.
No primeiro degrau dessa “cascata”, estaria o pequeno grupo das elites
econômicas e sociais; no segundo grupo estariam o das elites políticas e, no
terceiro, a mídia, seguida pelos chamados formadores de opinião – intelectuais,
religiosos, artistas, educadores, líderes empresariais e sindicais, jornalistas
– e, finalmente, no último degrau, a grande maioria que constitui a base da
população.
3 O elitismo como corrente
teórica da comunicação política predominou até os anos 50, principalmente a
partir das análises sobre a realidade norte-americana e alemã, que retomam sua
força nos anos 70. Autores ligados a essa corrente, tais como Lippmann (1922),
Katz (1957) e Lasswell (1936), afirmam que o cidadão só pode conhecer a
realidade social através da mídia, dada a sua condição atomizada na sociedade.
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do governo,
mas que reclamam o direito de que suas opiniões possam influenciar ou
determinar ações governamentais. (BOBBIO, 1998)
Afinal, a opinião pública nas
democracias contemporâneas é uma influência legítima ou não nas decisões de
governo?
Opinião Pública é a expressão de
opiniões do público a respeito de temas de interesse comum, que se diferencia
da Opinião Publicada, que é a apresentação pública da opinião. Essa distinção
foi feita pela primeira vez por Allport (1937) no texto Toward a Science of
Public Opinion, onde afirma que tratar Opinião Pública e Publicada como sendo a
mesma coisa é uma falácia.
Os estudos sobre o resultado da
campanha de desarmamento apontaram que a proibição do comércio de armas
deveu-se ao fato de que:
(...) a
campanha do NÃO soube explorar a percepção de segurança pública construída ao longo
dos últimos anos pela mídia. Enquanto, por outro lado, o SIM, foi incapaz de
demonstrar que representava uma probabilidade eficaz de mudança, uma vez que a
realidade que ele pretendia mudar não correspondia ao panorama de insegurança
construído a partir das percepções difundidas pela mídia. (VAZ et al., 2007)
À sensação de insegurança se
adicionou a incerteza do voto e, do ponto de vista racional, os eleitores
votaram a favor dos riscos bem conhecidos do presente em detrimento dos riscos
desconhecidos do futuro. Desse ponto de vista, a campanha do plebiscito na TV
foi uma disputa entre as “vítimas reais” (sempre, atuais e particulares), que o
SIM pretendeu colocar em cena ao seu lado, e as “vítimas virtuais” (vítimas
futuras e universais) que o NÃO se propunha a defender.
Para Vaz et al. (2007), a
campanha do SIM “exigia dos eleitores que eles renunciassem à sua condição
universal de vítimas e aceitassem se tornarem co-responsáveis – não apenas no
momento do voto, mas no seu cotidiano – pela segurança e pela insegurança
públicas” (VAZ et al, 2007). Essa era uma abdicação que o eleitor não estava
predisposto a fazer. Por isso, a maioria disse NÃO aum “direito” que, em sua
maior parte, nunca havia se preocupado em exercer ou defender.
No debate atual sobre a opinião
pública, o desempenho dos líderes de opinião reforça a idéia de uma
inter-relação entre os meios de comunicação, os indivíduos portadores de
características exemplares e o próprio público. É essa complexa relação que
possibilita o fornecimento de informações à opinião pública (Quadro 1).
Quadro 1 - Modelo de fluxos de
comunicação social
Fonte: Modelo de fluxos de
comunicação social (CORRÊA, 1993) adaptado de Dumazeider (1973)
Uma questão bastante relevante é
a fonte que, em qualquer situação de persuasão, seja ela a mídia ou outro
indivíduo em uma relação pessoal, “sempre tenta persuadir alguém a adotar
determinada posição” (LANE e SEARS, 1964).
Nesse sentido, seria muito
arriscado para a elite política tomar como princípio de sua atuação o
atendimento à opinião pública, visto que ela pode ser, através de instrumentos
específicos, manipulada para atender a determinados interesses que não são os
do bem comum (LIPPMANN, 1997).
Ao desacreditarem na existência
de uma opinião pública, Bourdieu (1983) e Champagne (1998) justificam a
existência, por um lado, de opiniões mobilizadas, constituídas, ou seja, grupos
de pressão mobilizados em torno de um sistema de interesses; e, por outro lado,
de disposições, isto é, da opinião no estado implícito.
Entretanto, Page e Shapiro (1992)
defendem que a opinião pública não é apenas resultado de manipulações
emocionais, pois ela apresenta uma racionalidade que se diferencia da
estabilidade absoluta por ser pública. Essa “opinião deve se remodelar sempre
que houver uma alteração perene ou transitória na composição das relações
sociais dos pertencentes ao público” (PAGE e SHAPIRO, 1992).
Contudo, Sartori (1994) acredita
que as opiniões públicas não são inatas, nem surgem do nada. Para ele, a
questão sobre o que é opinião pública é respondida por meio do processo de
disseminação de opiniões, a partir de níveis da elite; borbulhar de opiniões, a
partir das bases, e identificações com grupos de referência. Nota-se que a
complexidade desse tema não permite seu findar, porém suscita inúmeras
discussões.
Sendo assim, considera-se que a
opinião pública não é capaz de promover mudanças em si mesma, visto que ela é o
resultado dos agregados de alterações nas opiniões particulares. Conforme Bouza
(1998), “a realidade é muito mais ampla que a capacidade da mídia em retratá-la
a seu modo”.
Além disso, os resultados de
trabalhos empíricos apontam que a opinião pública é racional e coerente. Por
isso, as prioridades políticas coletivas são previsíveis, pois tratam do
resultado de avaliações públicas sobre políticas já inseridas.
A mídia contribui na formação da opinião pública?
A mídia parece perder, dia a dia,
a superioridade no tocante à formação da opinião pública, entre outras coisas,
pela acentuada crise de confiabilidade da chamada “grande imprensa” associada a
uma questão central: a concorrência das novas modalidades digitais de
comunicação, das quais surge um novo “destinatário” e/ou “consumidor” de
informações (SANTARENO, 2007).
No caso da televisão, tem-se por
certo que ela é “um formidável instrumento de manutenção da ordem simbólica”,
por desempenhar uma força perniciosa de violência simbólica: é uma violência
que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também, com
frequência, dos que a exercem. A violência simbólica está na ação simbólica da
TV no plano das informações, por exemplo, que consiste em atrair a atenção para
fatos que interessam a todo mundo, dos quais se pode dizer que são omnibus, ou
seja, “para todo mundo”. Com “a televisão estamos diante de um instrumento que,
teoricamente, possibilita atingir todo mundo” (BOURDIEU, 1997).
Diante desse fato, a Sociologia,
como todas as ciências que procuram desvendar coisas ocultas, poderá fornecer a
minimização das relações sociais, especialmente, nas relações de comunicação
pela mídia. Para Bourdieu, “há uma proporção muito importante de pessoas que
não lêem nenhum jornal, que estão devotadas de corpo e alma à televisão como
fonte única de informações” (BORDIEU, 1983).
Tal influência da mídia, em
particular da TV, é referenciada por Champagne (1993), em “La misêre du monde”,
no capítulo que trata da representação que a mídia dá aos fenômenos ditos de “subúrbio”.
Os jornalistas selecionaram
categorias de percepção de acordo com suas respectivas visões de mundo. A
categoria metafórica utilizada é a dos óculos, fruto da educação histórica
deles, porque é “a partir dos quais vêem certas coisas e não outras, e vêem de
certa maneira as coisas que vêem. Eles operam uma seleção e uma construção do
que é selecionado” (BOURDIEU, 1997).
De acordo com Bourdieu (1997),
“as palavras fazem coisas, criam fantasias, medos, fobias ou simplesmente,
representações falsas”. Dessa forma, o mundo da imagem é dominado pelas
palavras.
O princípio da seleção por meio
da busca sensacional dos espetáculos permitiu destacar a TV, que dramatiza
cenas e imagens de um acontecimento relevante, muitas vezes, de acontecimentos
trágicos e de rebeliões.
Há problemas, dúvidas e virtudes
no mundo digital. A respeito dos problemas, destaca-se o vandalismo digital, a
invasão de privacidade, a pirataria e a baixa do número de empregos devido à
automatização. Impera a incapacidade do mundo digital de resolver a questão da
vida e da morte e a fome. As virtudes giram em torno da descentralização, da
quebra de fronteiras pelos bits, da globalização, da capacitação (em conseguir
informação), da harmonização (empresas trabalhando juntas, por exemplo) e do
fato de tudo isso estar nas mãos dos jovens (NEGROPONTE, 1995).
O sistema de televisão é mais
flexível, pois permite ao telespectador escolher a hora e os programas que
deseja assistir na TV.
Além disso, a tecnologia dos
“bits que falam de outros bits” possibilita que as matérias de interesse do
usuário sejam comparadas entre redes de televisão e de computadores
(NEGROPONTE, 1995).
A TV, de acordo Bourdieu, de
instrumento de registro torna-se um instrumento de criação de realidade, e
assim, caminha-se “cada vez mais rumo a universos em que o mundo social é
descrito e prescrito pela TV” (BORDIEU, 1997). Para Flaubert, apud Bourdieu
(1979) o “mundo são idéias aceitas por todo mundo”, banais, convencionais
comuns, ao ponto que quando aceitas o problema da recepção não se coloca.
A internet, depois do advento da
sua área hipermídia - a Web, “expandiu 50% a cada ano durante a década de 90
impulsionada pelo interesse dos usuários (...)”. conforme Dizard (2000).
Questiona-se assim, até que ponto, “a nova mídia nos tornará individual e
coletivamente mais livres e mais competentes para lidar com os complexos
problemas da democracia pós-industrial” (DIZARD, 2000).
“Sociedade pós-industrial” para
Lyotard (1979), “sociedade informática” para Schaff (1995), “sociedade
tecnizada” para Machado (1993), “sociedade do conhecimento” para Toffler (1990)
ou “sociedade em rede” para Castells (1999), são as várias denominações que
esses autores dão à nova maneira social resultante de uma sociedade
globalizada, que enfatiza a produção econômica recaindo sobre o setor de
serviços e utiliza amplamente o conhecimento das inovações tecnológicas
proporcionadas pelas novas tecnologias de comunicação, pela informática, pela
microeletrônica.
O pensamento que é, por
definição, revolucionário, deve começar por demonstrar as “idéias feitas” e em
seguida evidenciá-las (isso pressupõe tempo). Para ser capaz de “pensar” em
condições em que ninguém pensa mais, é preciso ser pensador de um tipo
particular. Para isso é preciso:
(...) sempre
pensar as relações que podem estar visíveis nas formas de coexistência, de
sociabilidade, ou de relações entre indivíduos, ou ainda de relações mais
abstratas, mais estruturais, que organizam o campo - conceito essencial, nesse
sentido - da produção estética, filosófica, cultural, num momento e num lugar
os dados (BOURDIEU e PASSERON, 1975).
Nesse sentido, os campos têm suas
“próprias regras, princípios e hierarquias”, que são definidos a partir dos
conflitos e das tensões no que diz respeito à sua própria delimitação e
constituídos por redes de relações ou de oposições entre os atores sociais que
são seus membros. Há em cada campo princípios de organização que são próprios
desse campo. Um campo é
um espaço
social estruturado, campo de forças onde há dominantes e dominados, há relações
constantes, permanentes de desigualdade que se exercem no interior desse espaço
– campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças (BOURDIEU,
1979).
Assim sendo, o conceito de campo
se insere entre as determinações socioeconômicas na definição mais tradicional
da sociologia, da história social e da produção simbólica de idéias ou de
obras.
Quanto aos campos culturais,
estes devem ser considerados, primeiramente, como um mundo econômico invertido,
pois existe uma economia da produção simbólica – que funciona com parâmetros
opostos ao funcionamento do campo econômico. Isso significa que há uma inversão
dos valores ou dos interesses que regem o campo econômico dentro dos campos
culturais, onde o primeiro funda uma das tensões fundamentais, a de que “sua
própria perspectiva intelectual implicava que ele fosse, ao mesmo tempo, objeto
e produtor de sua análise” (BOURDIEU, 1997). A exemplo disso, o livro “Homo
Academicus”, de 1984, que analisa um campo particular, o campo acadêmico, a que
claramente Bourdieu pertenceu, consiste em uma análise sociológica do espaço
social ao qual ele próprio pertencia. Neste campo, há o desinteresse estético
ou intelectual contra a busca de benefício, de lucro econômico; a gratuidade do
gesto contra a utilidade da produção; a arte pela arte contra a circulação e a
acumulação do dinheiro.
Em segundo lugar, esses campos
culturais se fundamentam numa capacidade de reflexão, de auto-reflexão, de
consciência de si. Nesse mesmo livro,“Homo Academicus”, de 1984, Bourdieu
expressou, no prólogo, a dificuldade de constituição de qualquer discurso
científico sobre o mundo social. Pensava que havia uma dificuldade em elaborar
um discurso analítico sobre o mundo social porque havia uma aversão do mundo
social frente a sua própria verdade — particularmente, mas não unicamente, dos
dominantes. O discurso sobre o mundo social é “sempre difícil porque é
contrário à natureza dos interesses imediatos das desigualdades. E, desta
maneira, a tarefa não é fácil — talvez seja mais fácil escrever sobre o século
XV ou XVI, como eu” (BORDIEU, 1983).
Assim sendo, a dificuldade de
qualquer discurso científico sobre o mundo social chega ao auge, no caso de um
discurso que se dedica ao espaço, ao próprio jogo no qual o seu autor se
encontra comprometido. Tem-se a tensão entre, por um lado, a reconstrução dos
mecanismos desconhecidos pelos indivíduos e, por outro lado, a necessidade do
sociólogo de objetivar a sua própria posição como membro, nesse caso, do campo
acadêmico e, mais geralmente, do campo social.
Nessa perspectiva, o sociólogo,
ao fazer a adoção de um estilo de vida moderno, como se fosse o resultado de
uma livre escolha, não permite que seja manifestada sua própria filosofia.
Muitas vezes, as representações sociais são estratégias de luta que “comprovam
a relação de força e visam a transformá-la ou a conservá-la” (BOURDIEU, 1997).
No sentido de pensar como a
dimensão da incorporação, e os outros conceitos podiam parecer
intelectualizados demais. Bourdieu introduz o conceito de habitus– que aponta para um sistema de esquemas de percepção, de
juízo, de apreciação e de ação inscritos no corpo pelas experiências passadas
(CHARTIER, 2002).
A interiorização da situação
objetiva, os habitus de classe, é a
estrutura unificadora do conjunto das disposições que supõem a referência
prática ao futuro objetivo, quer se trate da resignação ou da revolta contra a
ordem atual ou da aptidão a submeter as condutas econômicas à previsão e ao
cálculo. Por isso, o uso de conceitos mediadores, como potencialidades
objetivas ou habitusde classe, permite ultrapassar as oposições abstratas entre
o subjetivo e o objetivo, o consciente e o inconsciente (BOURDIEU, 1979).
As condutas, por estarem escritas
na situação presente dos seus próprios sujeitos, dispõem permanentemente em
seus habitus e estão interiorizadas e à disposição diante de uma determinada
situação sob a influência desta (BOURDIEU, 1979).
No que se refere à violência
simbólica exibida pela mídia, Bourdieu (1997) expõe no livro “Sobre a
Televisão” uma ruptura com todas as representações e concepções espontaneístas
exercidas pelos propagandistas, jornalistas e um plano essencial, o discurso à
diferença.
Considerações finais
Por fim, pode-se apontar que a
violência simbólica exposta por Bourdieu permeia, também, os meios de
comunicação, na medida em que determinadas emissoras de TV, jornais, rádios,
entre outros, noticiam e enfatizam determinados eventos que acabam
influenciando nos demais. Este fato pode ser facilmente comprovado nos dias
atuais, com a globalização, que leva à crença de haver certa homogeneização das
informações, ou seja, basta assistir noticiários de diferentes emissoras de TV,
para constatar que a grande maioria das notícias são praticamente iguais.
Assim, os pressupostos propostos
por Bourdieu são importantes na análise do papel da mídia na formação da
opinião pública, por desvincular o foco central da análise da questão
econômica.
Portanto, a mídia exerce
influência na formação de opinião pública, porém com certas restrições de cunho
cultural, religioso, enfim, dos filtros de canalização social.
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